segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Uma reza aos esquecidos

Uma reza aos esquecidos

Eu rezo com o som inaudível dos pensamentos
Cerrando as pálpebras
Abrindo o cárdio
Metocárdio(?)
Miocárdio
Junto as mãos em nome de Deus
Sacrifico seres em nome de Deuses
Ajoelho a testa em nome de Alah
Canto na noite para a Deusa que aqui está
Choro por Pai e Mãe
E clamo, quando o ardor e furor já se foi,
Quando a experiência terminou
Como o choro final da criança que soluça
Um alegre caminho para toda a luta
Das vítimas sem casa e sem culpa
Do azar da terra inconformada
Que aquece o seu forno inferno
Desenformando pessoas
Desinformando cabeças
Quebrando momentos
Derrubando monumentos
E eu só rezando pela cura
Dos que já se perderam e
se encontraram
Dos que já choraram e
não acalentados foram
Dos que já cairam
e Levantaram
Para que não parem de viver
Para que não parem de tentar
De tentar viver
pois para eles...
Eu espero que deixem de sobreviver
Entre migalhas de esquecimentos
Para viver todas as conquistas de um instante.

Owen Phillips

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Diário de 2 corações




II Dia

Todo o tempo passado não deu tempo para dar tempo a saudade, ou para sentir saudade da onde estavámos. Pior, todo o tempo foi pouco e demasiado corrido para qualquer um dos dois e a sensação da frustração mistura-se com o desprazer do pouco tempo passado junto e com o desejo de ter mais. Mas houve celebração, choro, vela, alegria, piada e fotos. Mas a viagem não terminou, pois nenhuma viagem realmente termina, reside na memória e no bem-estar do homem que verdadeiramente aproveitou o tempo que passou em um lugar diferente que permitiu que ficassem mais juntos aqueles que estavam separados.

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Superados os problemas iniciais de estadia, os dois moverem-se, andaram por dunas de sonho. Caminharam por estradas, que para um deles levaria de lugar algum para lugar nenhum. E qual a surpresa que, ao final dessa estranha estrada, havia uma praia, um shopping ou até uma simples padaria. O papel de ambos estava bem definido: de um era ser um cego, o do outro de ser uma bússola; do primeiro era de abrir possibilidades, do segundo de curtir as mesmas; do primeiro de pedir, do segundo, por vezes, renegar. E nesse jogo de trocas passaram-se dois dias, duas noites, regadas há muita massa, bastante líquido, muitas declarações de amor e algumas visitas as praias: uma vez para ver o entardecer e as conchas; na outra para ver o nublado e a sujeira.

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Era o final do primeiro dia de estadia e os dois sabiam que algo deveria ser feito. O jantar tinha que ser especial como a comemoração, não ao passado dos dois, mas a alegria de estar junto para um futuro em comum. O som tocou alto melodias que lembravam o passado em comum. A luz foi apagada para que as velas fossem a única coisa que iluminasse. A comida terminada. A mesa posta, os cheiros espalhados, então começou. A verdade foi dita em uma noite de lua encoberta, envergonhada de tudo aquilo que foi relatado. Veio o choro entre soluços, o sufocamento e, por fim, a calmaria de uma noite sem excessos, ainda que um dos dois estivesse esperando esse excesso no fim, ledo engano.

Rememoro as últimas horas, as últimas pressas, os últimos beijos e o barulho da chave passando ruidosamente na fechadura. A porta estava fechada, local esse que tanto me assustou, quanto me permitiu gritar. Eu queria ter gritado mais alto, urrado e me debatido, no final o morno me matou. Veio a saída da casa, a corrida da espera e a espera morosa na parada de ônibus. No meio de beijos ardentes daqueles que se despedem eu queria dar o meu último fôlego de despedida para aquele local, para o meu amado. Só observei o amor alheio a nós e chicoteie-me com a visão da certeza última que aquela situação, a de um beijo em público, nunca aconteceria. Meu amado temia tudo aquilo que fosse vivo e animado, eu temia somente o invisível e o inanimado.

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ônibus, estrada, o tempo está curto para cumprir as minhas obrigações, eu corro com a chama que não se apaga. Tenho que cumprir um destino manifesto, preciso construir um futuro, tempo esse que uma viagem como essa possa ser mais comum. Eu voltarei no início do ciclo solar. Anseio no fundo da alma que só eu e o meu amado, pois no fundo eu o quero no meu mais fundo ser, assim como o quero desbravá-lo a fundo.

Owen Phillips
Sentado na lesma com rodas, além de Tranquilo, próximo do Dever.

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