quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Observações


A televisão ligada emitia imagens rápidas. O som que saia não era do interesse de ninguém. A criança, ainda pequena, se divertia sozinha com a sua mão, enquanto que a mãe preparava a janta antes que o marido chegasse do trabalho cansado. Uma casa pequena, uma vida pequena. Absorto a existência dessa casa o canal esforçava-se para atrair a audiência com matérias nem sempre interessantes, porém com ótimos efeitos visuais.

- “Agora iremos com a reporte Sylvia Muller para uma série de reportagens sobre desaparecimentos na Inglaterra. Hoje veremos o caso dos parques ingleses.”

O âncora do telejornal desaparece da televisão enquanto a gravação roda no estúdio. As primeiras tomadas tentam chamar a atenção com imagens de pessoas desaparecendo, em puro efeito “fading” a música calma e tranquila tenta transmitir um efeito melancólico. A atenção daquela família continua voltada para as coisas mais importantes, no caso da criança pequena brincar com a mão, e no caso da mãe vê se as batatas estão assando.

- “O maior dos parques britânicos, o parque Richmond a cada ano que passa possuí cada vez menos visitantes. O motivo reside no fato dos desaparecimentos constantes. Só esse ano, no primeiro semestre já foram cem pessoas o número pode ser baixo, diante da população britânica, mas diante da estimativa de público de duas mil pessoas que se ‘arriscam’ no parque no primeiro semestre desse ano, é uma taxa bem alta.”

A reportagem segue para uma próxima etapa descrevendo, com opinião de transeuntes, o medo que se segue por andar em um parque como aquele e como isso aflige a economia do comércio próximo.

- O Richmon Park nem sempre foi conhecido por pessoas desaparecidas, mas antes, pela poesia, pela caçada a veados e por raros besouros que aqui vivem. Há poesias que deram origem a um movimento mundial, chamado de arcadistas aqui, que proliferavam a idéia de um retorno a um mundo natural. Porém, desde o final da década de 60, começaram a desaparecer pessoas e, hoje, o parque tem poucos visitantes.

A cena é cortada, a jornalista se encontra no que parece ser um escritório, ao fundo, o brasão de armas da polícia de Londres e um homem firme, com voz seca responde com exatidão as respostas da jornalista:

- Sim, iremos em breve pôr postos da polícia no parque, assim como câmeras e policiais. O parque deve ser devolvido aos londrinos e não se tornar um local refém do medo. Em contrapartida, aqueles que forem desaparecidos serão reencontrados o mais breve possível. Pedimos que os familiares não se preocupem e tenham fé no nosso trabalho.

A repórter termina, caminhando na beirada de Richmon Park, a sua forma de falar que beira ao desespero termina com uma voz angelical com um ar de esperança e certeza.

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As luzes do monitor, em cores miriáticas, formam o rosto anguloso do homem em vestes formais, enquanto que o outro, apreensivo e feliz, aquece as suas mãos em uma clara ação de excitação, baixinho que só, é a metade do homem ao seu lado. Quando os seus olhos pequenos procuram o homem que o ajudou na ilha de edição, só encontra as suas costas terminando o caminho em direção a porta para a saída da ilha de edição.

- Então, você não me disse o que achou. Creio que ficou bom e a próxima edição será sobre a região de Whitechapel, por mim será uma ótima companhia a sua.

Ele não disfarçava a alegria e usava todo o seu argumento seguidamente para que o mesmo ficasse.

A resposta veio seca:

- Não, aquilo que eu deveria fazer eu já fiz, agora você termina o seu trabalho, tenho que ir.

Os argumentos sumiam da mente do pequeno homem, ele tentava focalizar as possibilidades que poderiam prender aquele gênio no seu canal, mas esses não permaneciam por tanto tempo que pudesse dizer qualquer coisa. Desistiu quando o viu desaparecer por detrás da porta fechada.

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A comida está posta na mesa. A mulher aguarda ansiosamente que o marido chegue. Próximo das dez da noite, enfim, decide ligar:

- Helen? Não, seu marido não veio trabalhar hoje não, pensávamos que estava doente. Helen?


Owen Phillips

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