domingo, 5 de setembro de 2010

Negociações


Era um dia terrivelmente claro e o seu rosto se iluminava com a luz do fim da tarde. A sua mão segurava o encosto da cadeira e descansava placidamente o peso em cima da mesma. A madeira velha acomodava-se tranquilamente na sua mão, enquanto o seu olhar, penetrante, cheio de dúvidas, espreitava o horizonte, procurando lá, a resposta que o afligia. “Senhor, o Lord de Castlerock já se encontra na ante sala, posso chamá-lo?” Joseph Kingsley voltou dos seus longos pensamentos. Arrumou o terno italiano no corpo, andou até a cadeira, ajeitou o melhor que pôde o seu cabelo castanho-escuro e acenou positivamente com a cabeça. Apoiou o rosto no meio das mãos que estavam cruzadas, quando a porta se abriu não havia um alguém com dúvidas, mas alguém preparado para o pior confronto que teria.

“Sim, podemos, com algum esforço, encontrar o seu filho Adrian Kingsley, porém, senhor tem que entender os custos imbricados nisso. Não é fácil encontrar alguém depois de mais de 20 anos”. O homem começou a falar antes mesmo de ele ter terminado e, pelo jeito, veio preparado para argumentar e, quem sabe, já não teria um plano e um preço? Ele deixou que conduzisse a conversa, queria saber onde iria chegar, para, aí então, poder se pronunciar. “... Dentre todos esses gastos listados, teremos ainda uma equipe permanente para procurar o seu filho, esteja ele onde estiver. O custo para isso? Irrisório, queremos só 5% das ações de todas as suas empresas e participação direta no lucro gerado por ela”.

Aquilo era um absurdo, como poderiam oferecer tanto, por um tempo tão indeterminado e cobrarem só isso? Pela lógica isso esconderia alguma coisa, havia algo particular, sombrio naquela organização. Parando para pensar agora, ele mesmo não conseguia se lembrar como tinha chegado até esse senhor. Lembrava-se vagamente alguém comentando a respeito de uma sociedade secreta. Mas o que mais tinha, durante anos em Londres eram sociedades secretas. A onda do babeuismo se espalhara na Europa e em Londres teria permanecido por mais tempo, especialmente com essa moda da nova-era, resquícios de uns anos 70 e 80 conturbados, qualquer um se dizia seguidor de Aleister Crownley e coisas assim. Mas essa organização específica era qual mesmo? E esse senhor pertencia a essa ordem?

A sua mente tentou focar na proposta e deixar as aleatoriedades para trás. “Creio que a proposta parece interessante, porém, necessito de tempo para pensar, nada disso poderá ser discutido às pressas, acabei de enterrar o meu pai e o abalo causado por isso precisa ser digerido”. O Lorde de Castlerock levantou e, se apoiando nos fortes braços da cadeira, tentou fazer isso da forma mais lenta para que o senhor Kingsley prestasse bastante atenção nele. Com um olhar penetrante e fulminante, quando já de pé, lançou: “Acredito que, o que há de mais importante para alguém seja a família e acredito que para alguém que tanto esperou, esperar um tanto mais não fará diferença”. Diferença? Claro que faz diferença, ninguém sabia o real motivo de tanta procura, o motivo era bem simples, ele iria morrer em breve. O coração foi comprometido, ele não tinha mais resistência física nem para ficar de pé, muito menos seguir com a empresa. Como família, o único que manteria unificado o imenso império industrial dos kingsley seria o seu filho e herdeiro direto, já que uma vez ele não estando os seus primos, tias e parentes iriam lapidar com toda a fortuna acumulada. No final, a procura pelo filho se resumia a salvar um império econômico de quase 300 anos da fome de imensos abutres. Haveria mais? Um sentimento talvez? Ele desconfiava que sim, mas ele sempre foi um homem objetivo e, objetivamente falando, agora ele tinha que encontrar o seu filho para isso e não para sentimentalismos baratos de um homem que estava a beira da morte. Na sua cabeça surgiu à palavra saudade e a pontada no coração veio em seguida.

“Sim, eu aceito.” Lord Castlerock abriu um pequeno sorriso e acenou com a mão, como quem diz que o acordo estivesse selado. “Bem, senhor, eu enviarei os papéis, o qual deve assinar e uma cópia ficará nas mãos do senhor, enquanto outra seguirá para registro em cartório e o original ficará conosco, em breve enviaremos alguém para acertar os detalhes”.

Quando o associado estava finalmente fora do jardim sacou o telefone celular, pequeno o suficiente para guardar no bolso e com inúmeras funções disponíveis, ligou e, tamanha era sua alegria, que o barulho do chamado do telefone parecia uma era interminável. Ainda, naquela noite, Evans riu, riu diante da parte que ele considerava mais difícil ter sido concluída, agora era só uma questão de empurrar a peça de dominó certa para o efeito que esperava.

Owen Phillips

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