quarta-feira, 2 de março de 2011

Se um aluno erra, quem deve ser punido é o aluno e BASTA.

Texto comentário referente a: http://me.lt/4Gz1

Que é sobre o seguinte texto: http://me.lt/4Gz9

E Sinceramente, Senho Provocador, o termo correto É TROLL


Olá senhor provocador

Eu diria um nome sugestivo para um blog. Ok, iremos testar agora o quanto é a sua vez de ser provocado e se suporta a própria provocação. Obviamente irá limar o meu comentário, bem, pelo menos tenho fé de que não o faça. Já que quem gosta de provocar deve estar sujeito a aceitar o resultado da provocação.

Sofro um estranhamento profundo a respeito de como trata o sexo logo no início do texto, algo como ato sumário. Cá entre nós, há um que de moralismo nessa parte, bem, pelo menos boa parte do seu texto isso permeia o conteúdo do seu texto. Talvez para valorizar e aumentar a capacidade provocativa você retorna um modelo moral e ético que reinava sim no século XIX. Não, não o estou ofendendo, estou apenas apontando a origem do seu pensamento, assim como a classificação de que a sociedade brasileira (creio eu que é dessa que estamos falando, quando tratamos da realidade desses alunos) é machista, origina-se também senão desse período, pelo menos algo que recorre até os anos dourados da produção canavieira no Brasil, aonde uma elite utilizava um padrão patriarcal, do qual há a origem mais clara do machismo que temos como resquício.

Mas gostaria de salientar, com um certo cuidado, que o "demônio mora nos detalhes" (isso é só uma máxima, nada mais do que isso). A sociedade brasileira vem, cada vez mais, com uma característica de orientação matriarcal, onde regiões no Brasil possuem certa de 35% de famílias dirigidas por mulheres que trabalham fora. Problema que isso gera? Bem, se a mãe for aquela tipicamente solteira terá que deixar o filho com alguma profissional, ou não tão profissional assim, ou reza para que ele se cuide sozinho, se já tiver idade para isso. Porém, isso se deve, CLARAMENTE, a uma situação macro econômica que percorre toda a sociedade mundial, uma necessidade cada vez mais crescente de mão de obra, que não pode se reter apenas a uma questão de gênero, ou pior, a uma condição natural de mãe. Há um problema que isso gera, é óbvio, que a mulher, que historicamente foi o pilar da educação, passou a relegar a essa função a terceiros, pior ainda, que a educação não se tornou aquilo que terminava aos 6 anos da criança, mas sim que perduraria até pelo menos aos 18 anos, pois a sociedade, cada vez mais industrializada e mecanizada, precisaria de profissionais capacitados para operar máquinas cada vez mais complexas e cheias de um valor agregado social.

A educação no meio disso tudo? No meio desse caos social? Se tornou parte do Estado, no qual se torna responsável em gerir a educação, não de 1 família, mas de milhares, em um espaço de 11 anos (se tudo correr bem para a criança-adolescente e a mesma não vir a repetir). Mas a criança que chega ao corpo da escola, no entanto, é uma criança com experiências, vivências próprias e, se tiver origem pobre quase certo com um histórico contubardo na família, muitas das vezes carente de afeto e atenção que não teve no decorrer dos seus primeiros anos devido a situação macro econômica explicada acima.

Então, não é de se estranhar, obviamente, que a criança passe a enxergar na escola, não apenas um papel de um local de saber, mas como a continuação da sua casa. Por esses fatores, muitos educadores lançam mão, especialmente aqueles relacionados a educação infantil, de um método de se afeiçoar ao discente, para conquistá-lo pelo coração e atrair a sua atenção para o objetivo da matéria.

Porém, amor sem limites se torna libertinagem. E aí é que mora o perigo, senhor provocador. O Estado, com o seu papel devido de regulador da situação da escola, passa uma série de cobranças que servem a um modelo macro econômico facilmente conhecido pela sigla FMI e outros interesses internacionais. Para cumprir essas metas educacionais, metas essas que servem para medir o desenvolvimento de um país, procura limitar as ações da escola e promove, em muitos estados brasileiros, verdadeiras formas de promoção automáticas. Claro que nenhum Estado brasileiro irá afirmar isso, mas quando para se ter um aumento para os professores, a escola é obrigada a reprovar, no máximo 3 alunos por turma, fica claro qual é o papel da escola: máquina de exército de reserva.

Mas a "pouca vergonha" não termina por aí. A escola também se vê acuada, pois com tantas cobranças que são passadas a elas, ela mesma é completamente desassistida pelo Estado. Seja não repassando verbas para melhorar a condição da parte física da escola, seja não promovendo subsídios para que retome a autoridade do professor em sala. Sim, pois no seu tempo, se houvesse uma briga, seja com quem fosse, o professor poderia apartar a briga, segurando o braço de um e de outro e levando direto para a secretaria. No entanto, hoje em dia é proibido ao professor sequer se envolver em qualquer briga de aluno. Motivo? Se em algum momento, ele encostar no aluno e isso vir a feri-lo ele é capaz de aparecer nos jornais locais como o pior vilão de toda a história, mais ou menos como você descreve nesse texto.

Bem, imaginemos que através de alguns poderes mágicos que aqui não valem ser descritos, o professor fosse capaz de levar os brigões, ou como descrito no seu caso, os dois amantes voyeuristas, para a autoridade máxima em uma escola, no caso a diretora da unidade escolar. O que ela poderia fazer? No máximo chamar os responsáveis por aquele aluno, pedir para que não fizesse isso e PONTO. Ainda acho de uma imensa coragem ela ter conseguido expulsar os alunos, pois, se fosse em alguns colégios, onde o crime impera aos olhos vistos da sociedade, se a diretora expulsasse os alunos ela poderia ser ameaçada de morte, como já vi acontecer. Isso ocorrer, pois há outras transformações na sociedade, em que o Estado, ao tentar diminuir os seus gastos públicos retira da folha de pagamento a sua palavra mágica chamada Superávit primário, as custas de uma segurança deficitária, em que muitos oficiais são levados a criminalidade para sustentar a sua família.

Não quero aqui dá uma de advogado de pobre e dizer que tudo é por conta de uma sociedade que assim está por conta de um capitalismo voraz e selvagem, no entanto, não há como descolar um processo do outro. Não podemos, apenas pela provocação, apontarmos um erro e lançarmos a polemus, em busca de uma provocação que não gera nada mais que revolta e consternação. A palavra e o conhecimento não podem estar reduzidos em uma situação tão pobre de sentido.

Voltando, então, para a situação do professor, assim como da própria escola. Não acredito que em uma reunião, em apenas uma reunião, demitisse todo um corpo de profissionais, apenas por isso. No mínimo seria uma tolice, já que esses mesmos profissionais passaram boa parte uma experiência em tentativa de construir uma escola, usando as próprias ferramentas e métodos que seriam de melhor uso para si. Em acréscimo não acredito que foi de todo errado a situação da escola ao expulsar os alunos da escola. Acrescentaria apenas aí o dedo da justiça e avisaria aos cargos competentes o que houve e relataria aquilo que teria ouvido, assim, isentando-se da culpa. Sim, isentando-se, pois no final das contas foram eles que promoveram a tal atitude de fazer sexo sendo filmado e com consentimento de ambos.

Por fim, ao contrário do que o seu título do post no blog indica, eu não puniria os professores, nem a escola e nem a direção, mas sim o aluno, pois se todo erro que o aluno cometer for o próprio aluno isentado em prol dos responsáveis por ele, ele não terá a educação possível, já que, a educação, ao meu ver não é feito com o gosto doce do amor, mas, em conjunto, com o gosto azedo da punição severa aos atos excessivos. Talvez seja isso que temos que dar aos alunos e é isso que eles querem de nós, ao tomar tantos atos estranhos, pedir que ponhamos limites nele.

Por último, passar bem e espero que seja menos provocador e um pouco mais observador. A observação traz mais resultados do que a simples polêmica que NUNCA leva a nada. Acho que possuem um termo para provocadores excessivos na internet, mas não me recordo de qual no exato momento.


Ass.: Owen Phillips

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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Atos de Liberdade

Ele estava só naquela cabine envelhecida e carcomida pelo tempo. O glamour de uma era fora devorado pelo monstro do tempo e, mesmo com todos os esforços do mundo, nada traria a beleza aquela cabine de trem novamente. A cortina estava fechada, mas era indiferente, estando aberta ou fechada tudo que veria era o negro sem fim de uma noite sem Lua e sem estrelas. Ele cruzava um caminho longo e sombrio, mas não estou falando do trem. A sua mente era assaltada, às vezes por vozes: “Fale de mim, escreva sobre mim, diga sobre mim”. Aquela ânsia insana o atirava as noites escuras entre papéis e uma ou outra caneta. Um dos seus personagens, agora o estava ao lado, enquerindo-o. “Então, quando você me dirá qual fim que eu tomei, não quero ser para sempre o anjo aloirado que ataca uma janela. O que estou fazendo lá?” O colarinho do louco foi erguido por uma força estranha e quem passasse ali e notasse seus pés veria que não tocava o chão. “Eu não sou seu bonequinho, que pode ser esquecido em um canto e quando a tristeza bate você retorna para mim. Diga o que eu faço depois, pois eu não sei e nem sei para onde eu vou”.

Impassível estava o escritor e por assim ficou, não mudaria a face, pois nela estava escrita a vergonha. A vergonha de ter tantas histórias e nada escrever sobre elas. Não poderia dizer que não saberia como terminava, já que ele mesmo não conhecia o final da sua história. Foi um lampejo de um começo, não foi a certeza de que teria um fim. Ele poderia mentir, mas estava tão fraco que preferia que tudo terminasse só com menos dor possível. A sua mente não estranhava a presença de um eu criado pelo próprio eu. Insanidade? Não, costume, não era a primeira vez que tinha aquele encontro. Talvez na primeira vez tenha tomado um susto, mas aquilo não era uma alucinação. Era realidade e isso ele notou quando o seu primeiro personagem trouxe o leite quente que ele havia lhe pedido. No dia seguinte a sua mãe reclamou dele não ter limpado o copo após o uso, como era o costume da casa.

Mas nenhum era como ele. Na verdade, as personagens surgiam depois que ele criava muitas histórias sobre a mesma personagem. Mas esse não tinha descrição, nem uma história construída, apenas duas frases. Ele baixou a cabeça, esperando a violência que viria depois e veio. Seu corpo foi lançado contra a parede e o baque posterior fez a madeira da cabine no trem tremer, mas efetivamente não o machucou profundamente. A dor que veio depois não justificava o seu choro, que, de fundo emocional, projetava a angústia que residia em seu peito. As lágrimas fizeram o personagem parar na sua frente, ainda com o cabelo aloirado, como de um lindo anjo querubim, mas com o corpo volumoso ele parou para se questionar. “Você sabe o meu final? Acho que não. Você não devia fazer isso comigo, não parar no meio do caminho. Dê-me um final agora, termine a história, antes que eu mesmo a termine para você.”

“Então a termine, pois você foi apenas um momento e nada mais.” O escritor queria um fim para aquela agonia que sentia. Ele viajava, nesse momento, para o hospital e lá tinha tudo que ele queria e amava definhava e era a sua culpa. Assim como era sua culpa aquele ser, originado da sua cabeça pedir um destino para ele. Como ele poderia dar um destino a alguém se ele mesmo não tinha um a qual seguir. Ele, para seus personagens, muita das vezes agia como um pai, algumas vezes como a família que eles perdiam na história, mas a todo tempo ele era só um Deus tirânico que, para vender melhor a sua história, tirava tudo deles e os fazia sofrer. Ele, cedo demais, aprendeu que histórias tristes trazem mais dinheiro. Ninguém quer ler uma história que serve apenas como um quadro monótono de uma vida idílica. “Eu tomo, para mim, então a minha própria história e contarei ela da forma como eu a quiser. Dê-me a liberdade, não quero ser um ladrão, nem um artista fraco como você. Quero ter uma casa, morar com uma família e ser alguém que possa ter um ou outro filho que venha lembrar de mim depois e depois, quando morrerem, enfim ser esquecido. Eu tenho sonhos simples que ouro nenhum, de banco algum, me dará.”

O escritor realmente se esforçava para se lembrar da história que tinha cunhado para aquela pobre alma que queria saber o seu fim em um mundo. Porém, nada trazia a si a memória a respeito daquela história. Acabou desistindo, como vinha desistindo sempre nos últimos tempos a respeito de tudo. “Vá, não terá história com um final, escolha a sua e me deixe em paz, maldita criatura.” Ele baixou a cabeça e as suas lágrimas misturavam-se com a saliva, entrando por sua boca e saindo em bolhas que estouravam, o escritor era agora só desespero. O anjo aloirado virou e fechou a porta abruptamente e depois de alguns minutos ouviu-se o bilheteiro perguntando o nome, o qual foi prontamente respondido: “A partir de agora sou alguém".

Owen Phillips

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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Uma Noite Sem Luar - PArte II - A queda da máscara de prata



Walt passou a ser o seu nome há algum tempo. Ele cada vez mais era o nome daquela noite diante do Lord Slurth no meio do cemitério. Era um sonho noturno agradável, sua vida de menino de rua, havia sido trocado por brincadeiras, quase sempre nada fatais, mas muito engraçadas. Conheceu outros da sua espécie para longe de Londres, viajou, viu milagres. Tudo foi uma maravilha noturna de tonalidades cinzentas e silenciosas. Agora, naquele corredor escuro, o pequeno Walt, ou Balthazar Quilmes no seu nome mortal, se via com um dever, que dessa vez, poderia não ser tão inocente. Todas as portas haviam sido abertas, mas era no final do corredor que seu dever se encontrava e qual eram os perigos que o aguardava?

Por muito tempo Slurth ficou surpreso com a velocidade que Yshilan chegava aos locais. Slurth sempre se viu em desvantagem pelo controle que Yshilan tinha das artes da andança, mas, agora, isso seria usado ao seu favor. A voz veio baixa e grave “ Yshilan, você será meu adversário”. Slurt deu um passo vacilante a frente que foi detido pelo corpo gigante de Sinilas, seu dorso levantou a sua frente como um longo poste que bloqueava o seu caminho. O movimento, no entanto, abriu caminho do mascarado para Yshilan. O seu ataque foi certeiro em Yshilan, acertando o espaço entre a costela e o diafragma do Duque. Mas quando retirou a pequena faca, não havia sangue e o riso do duque era mostrado em sua face. Ele sacou rapidamente a espada da bainha, na altura do quadril, com o espaço reduzido, pela proximidade do ataque do mascarado, o cabo da espada atingiu o queixo do mascarado, jogando-o no ar e caindo alguns metros de distância. A máscara de prata rodopiou fora do descanso que tinha na face, essa mesma, agora, descoberta.

Walt havia percorrido todo o corredor, entrado em todas as portas, ou quase. Havia uma, no final do longo corredor. A sua porta não era majestosa, nem incrível, somente medíocre, copiava todas as anteriores. Mas o que mais ele temia era a fama de Lord Yshilan. Ele sabia que tinha sido fácil até agora, mas aquilo que realmente mereceria proteção era aquilo que as forças desse duque estariam investidas da melhor forma. Ele abriu a porta levemente e seus pés, assim como seu corpo, não emitia nenhum som, tal era a delicadeza dos movimentos. Pequeno e ágil ele procurou, por entre as estantes de livros, corredores e labirintos. Ele ainda via um livro e uma pena negra no meio da sala, mas algo o avisava que ali era um local para ficar distante. Ele andou mais até finalmente ver o facho de luz. “Fácil demais, Yshilan é só fama e nada mais”. Ele se virou e fixou o seu olhar naquele espelho que refletia a luz para o chão, ele havia chegado ao seu destino sem nenhum arranhão. Lord Slurth estava certo, um duque tão fraco como ele não poderia reger, talvez, quem sabe, o próprio Slurth e trazer de volta a glória vitoriana aos Sluaghs. Sim, isso seria perfeito.

Walt havia se perdido em seus pensamentos, se fosse mais atento, por certo veria e perceberia a pequena e sutil alteração de energia próxima a si, mas pagou caro pelo seu orgulho excessivo. Primeiro foi um livro que o atingiu na nuca, que o deixou tonto e confuso. Depois várias estantes caiam uma por cima da outra como imensas peças de dominó. Aquilo não servia para atingi-lo, mas dificultar a sua chegada até o espelho refletor. Walt sacou da manga a sua pequena adaga, que mais parecia um canivete crescido e lambeu os lábios e se esgueirou nas sombras. Queria antes saber o que havia ali e acreditava que se refugiando poderia descobrir mais sobre o seu agressor. Ele foi para detrás da estante, logo em seguida folhas de papel começaram a rodopiar ao seu redor, bloqueando a sua visão. Não adiantava se esconder, seja lá o que for o já tinha visto e, pelo jeito, não o perderia tão facilmente. Walt pulou para fora do alcance da queda das estantes um momento antes de toda cair com um forte estrondo. Correu em direção ao espelho, agora bloqueado pelas primeiras estantes que caíram e tentou passar pelo bloqueio. Enquanto tentava superar o terreno dificultoso, Walt era alvejado por afiadas penas tinteiro em sua direção. Ele tentava se esquivar e prestar atenção em qual direção vinha as penas, mas seja lá o que for, ou manipulava aquilo a distância, ou movia-se bem rápido para seus argutos olhos.

Walt enfureceu-se e jogou uma carta de tarô no chão e a rodopiou rápido, enquanto falava palavras tão baixas que até para um Sluagh seria difícil ouvir. Quando a carta parou, ele lançou ao longe a sua única arma, a adaga, rezando para que aquilo que o estava importunando fosse atingido. A parede foi a única coisa atingida. Fosse o que fosse aquilo, não seria atingida por armas quiméricas normais. Walt pensou que ela era rápida, ou forte o suficiente para superar o seu cantrip e tentou focalizar na sua principal missão. Ele olhou novamente para o espelho e, agora, mais próximo do seu objetivo deu um salto longo e vigoroso para o seu tamanho diminuto. Ele conseguiu agarrar parte do espelho. Somente parte, por que, de repente, ele começou a voar. Levitou a princípio, para somente depois começar a andar um pouco, balançando-se com força para fazer Walt descer. Naquele momento então notou, aquele pequeno ser deveria ter uma pequena estatura e pouca força, pois mal conseguia erguer um espelho de corpo inteiro. Esse mesmo ser voava e, por mais incrível que fosse, era invisível. Ele sabia agora o que enfrentava e aquilo não poderia ser o seu pior adversário.

Walt não pensou duas vezes, rasgou um pequeno pedaço da sua roupa mortal, que diretamente não influenciava o seu próprio Voile, e fez uma tosca luva que protegia a sua mão e com toda a sua força quebrou o espelho. Uma onda de choque propagou-se pela sala e pequenos pedaços de vidro e cristal espalharam-se pela sala, refletindo uma miríade de cores no ambiente. Agora, tanto o adversário de Walt, quanto o próprio Walt estavam caído. Restava Walt saber, o seu pequeno e mortal adversário estava acordado ou não? Ele tinha que ser cauteloso e em um piscar de olhos, mesmo com o corpo ferido pela explosão do espelho rastejou-se nas sombras e por lá se direcionou até o hall, onde acontecia a batalha principal.

Slurth sempre ouviu uma coisa a ser dita após a chegada de Yshilan, Alberanius e Athus. Alberanius era a espada e o poder, a bainha era Athus, onde a força residia e Yshilan era a mão que aos dois guiava. Isso foi uma metáfora importante na época da Guerra da Hera. Mas Alberanius há muito tinha abandonado Yshilan e, mesmo diante do seu poder quimérico, havia uma força que sempre impedia de um confronto direto Yshilan, a irritante presença de Athus. A inteligência, mesclada ao poder carismático de Yshilan, ainda era uma força a ser considerada na balança de poder dentro do Ducado dos Espinhos e aquele, aos olhos de Slurth era o momento épico que ele aguardava, mal conseguia disfarçar a satisfação. A máscara havia caído e o rosto era de um homem envelhecido, fraco, de cabelos prateados, olhos cinzas, a única coisa que lhe faltava no semblante era o maldito livro que sempre carregava contra o peito. Athus era o homem por detrás da máscara.

Aquilo paralisou qualquer ação, ou reação de Yshilan. Por um segundo Slurth podia sentir o amargo sabor da lágrima que teimava em querer descer dos olhos de Yshilan. A expressão do rosto de Yshilan mudou várias vezes, da consternação passou a raiva e da raiva veio o berro que inflava de vermelho o rosto de Yshilan: “POR QUE ATHUS, POR QUE? Responda”. Slurth sabia, ele devia estar usando o dom da sua casa Gwydion para obter maiores informações, isso só confirmava uma coisa, Slurth ganhou aquela luta. Em um rápido movimento Slurth ele tirou da mão pequenas linhas e fez da sua mão como se fosse um fantoche, Sinilas, a princípio tentou resistir, mas seu corpo foi lançado ao fundo do hall, quase acertando Walt que aparecia naquele momento. Ainda de frente para o rosto de Sinilas ele apenas disse: Mescle amor com raiva, mescle cansaço com descanso, mescle a mim com o sono que não irá o deter. Sinilas novamente tentou impor a sua vontade a frente de Lord Slurth, mas quedou-se ao seu encanto.

“Responda-me Athus, pois senão eu mesmo o mato aqui”. Slurth, encurvado e cínico surgiu das suas sombras e abriu um sorriso. “Não esbraveje Senhor Duque, não há como confrontá-lo aqui, não há como feri-lo e por isso já estamos de retirada, se o senhor permitir, é óbvio”. Yshilan não conseguia entender, será que Slurth havia entrado em definitivo em Bedlam nesse tempo que havia sumido, é claro que ele, duque da Casa de Gwydion jamais deixaria que eles se livrassem facilmente dessa, seria hoje que ele possivelmente derramaria pela primeira vez sangue Kithain. Com a espada sacada ele apontou para o corpo esguio e corcunda de Slurth. “Retire o encanto em Athus, agora mesmo sua cobra vil e peçonhenta”. Slurth mostrou ainda mais os seus dentes velhos e amarelados e contestou: “Foi uma péssima ideia senhor, foi mesmo, mas agora queremos sair, rápido, antes que a sua força nos mate. Eu reconheço que não deveria invadir, mas um Freehold vazio e fraco como esse poderia ser alvo de coisa pior, quem sabe o que os Pródigos poderiam fazer com esse poderoso Freehold”. Havia tanta zombaria e mentiras nas palavras de Slurth que Yshilan não precisava usar de seu dom nele. “Não, haverá um julgamento Slurth e você será julgado e condenado por esse crime vil que cometeu. Você violou uma das coisas mais sagradas para nós Kithains e não sairá impune dessa vez”. A voz da justiça de Yshilan enchia o seu freehold com uma raiva avermelhada e sangrenta, aquilo não era justiça, apenas vingança sanguinolenta. Sim, ali derramaria sangue Kithain senão fosse pela intromissão de Slurth.

“Senhor, gostaria que a Vossa Santidade, ohh desculpe, não sei qual é o pronome correto de tratamento. Mas não quero que a Vossa Senhoria derrame sangue de Kinain em seu freehold. Sim, sangue de Kinain, pois se eu e meus comparsas não sairmos daqui e agora, mergulharei o seu freehold em tanto sangue que tirá-lo daqui será um custo”. Yshilan ria daquela ameaça de que Kinain Slurth estava falando e antes que a pergunta fosse formulada e saísse da sua boca, a figura dos dois Redcaps se formaram e, com eles, estava a prima de Meg, Susan, amarrada, amordaçada e ameaçada pelos dois com armas quiméricas. Naquele instante ele percebeu que tanto um dos irmãos havia invocado a Wyrd, tornando a realidade quimérica mais próxima ao mundo banal. “Você acha realmente que irá escapar desse julgamento? Não, você não irá Slurth.”

Com apenas um manear da cabeça Slurth contestou. Ele ajeitou a própria roupa, andou pausadamente em direção a saída do Freehold, bateu na própria roupa, como se tirasse uma poeira fantasmagórica e disse baixo e quase sibilando: “Vamos e você, levante-se daí.” Com apenas uma mão ajudou Athus a levantar-se dali, com cuidado e presteza. Yshilan ainda lançou o seu corpo ofensivamente a frente, mas lembrou-se da longa amargura da perda de Meg do seu marido. Não podia fazer nada, o passo mais ousado a frente fez verter sangue do pescoço da Susan. Yshilan temia de raiva, enquanto uma alegria sombria varria a face deslavada de Slurth. “Não há feitiço nenhum lançado por mim em cima de Athus, Yshilan”. Ao som daquelas palavras, Yshilan soube que a verdade mais pura e cristalina saia dela. Quando os irmãos Crimson saíram pela porta, sendo os últimos e jogaram, por fim, Susan, desacordada a frente de Yshilan, ele não teve forças para lutar. A única força que ele passou a ter foi ali ficar, de uma vez por todas, parado, inerte, perdido dentro da sua própria auto comiseração.

Prólogo:

Eles demoraram a noite inteira até chegarem na caverna, porém era uma noite que os favorecia, era uma noite que todas as lâmpadas de Londres estavam apagadas, nenhuma televisão estava ligada e que as sombras eram tão mais escuras que se poderia reviver a época de terror londrino de Jack, o estripador. A caverna, assim sendo, parecia o próprio âmago das trevas, tamanha era a escuridão e a pouca luz originada de uma fonte artificial, a tocha, não era suficiente para iluminá-los. “Nós perdemos, não conseguimos o freehold, não consegui pegar o espelho. Quase fomos derrotados e, senão fosse pelo sucesso dos irmãos Crimson, a essa hora poderíamos estar sendo julgados por Lord Yshilan. Por certo Lord Yshilan venha nos procurar o mais breve possível e, quem sabe, até o Lord Protector compareça aqui.” Aquelas palavras viam cheio de pesar de Walt, com um pesar imenso, pois ele sentia que teria um dever a cumprir com o homem que o sempre ajudou. Slurth mostrou, através de seus olhos fundos nas órbitas, um lado paternal que não admitia na frente de nenhum outro compatriota dos Young Ones: “Não é bem assim Walt, eu diria que tivemos mais sucesso do que nunca. Quanto a Whitestone é isso que eu mais aguardo.” O riso dele não era alto, mas parecia um vento assustador que soprava na noite trazendo terror a todas as crianças que ouviam vozes naquela noite. Aquela foi a noite mais escura de Londres, sem Lua, sem luz.

Owen Phillips

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