domingo, 9 de agosto de 2020

O Jogo das Trocas

 Silhuetas De Pessoas Corporativas - Baixar Vector


Era um jogo, sempre foi um jogo. Diferente de outros jogos, o problema não era saber quem ganha ou perde, mas era conhecer as regras, regras essas que precisavam ser estabelecidas pelos participantes. Talvez seja necessário explicar essa parte que pode parecer confusa. Em resumo é, quando o participante A se encontrava com participante B, as ações de A gerariam as respostas esperadas por B. Como havia dito antes, não havia vencedores e nem perdedores, porque a qualquer momento os jogadores poderiam se distanciar e o jogo acabaria para os dois, talvez aqui houvesse uma derrota, quando o jogo acabava e só perdia quem continuasse a tentar a jogar. 


É nesse cenário que o jogo se fez. De um lado alguém experiente, por certo, guiado pela soberba e empáfia e do outro, alguém tão novo nesse jogo que parecia alguém fácil de levar e guiado pela inocência. De fato, não foi temeroso as primeiras rodadas, o mais novo, óbvio, entregou o que podia, ou até mesmo, acreditava o mais novo, mais do que deveria. Uma jogada arriscada, enquanto o mais velho viu aquilo e raciocinou rápido, darei um pouco, mas não o suficiente para me perder de mim. Nessa velocidade, o jogo seria longo e em breve os dois estariam ligados de tal forma que se desligar seria impossível. O que para o mais velho seria uma vitória inenarrável. De fato a plateia observava aquilo apreensiva.


O movimento seguinte mudou o cenário dessa vitória ganha. Algo impensável foi feito, o jogador mais velho decidiu compartilhar e assim correr mais rápido com a vitória. Ele não entregou pouco antes, ele calculou que ele poderia ser parte dele, era um sonho impossível e a impossibilidade diante de tudo era que compartilhar era um ato normalmente feito apenas para uma única pessoa. Havia jogadores experientes que fizeram isso com mais de uma pessoa, mas esses eram tão específicos que eram vistos como alienígenas e não como vencedores. O seu movimento foi recebido pelo mais novo com reserva, mas a troca ainda aconteceu, em uma medida até grande, mas o compartilhamento foi definitivamente rejeitado.


Naquele momento o mais velho dos jogadores entendeu o que aconteceria, ficou visível para ele: ele iria perder, porque ele seria o último a entregar. Ele sabia que não seria surpreendido, ele sabia que em um dado momento, quando o mais novo estivesse bem, ele sairia de perto. Para ter alguma chance ainda, ele teria que se afastar, parar com a troca e dessa forma se preservaria. Ele foi avisado tanto externamente, quanto por ele mesmo. Alguns chamariam a persistência de teimosia, mas não era, era esperança. Esperança que o mundo poderia ser diferente, esperança de que as pessoas fossem feita de outra matéria. Mas ele era um jogador experiente, ele tinha previsto cada movimento em sequência. A previsão era que o próximo ato seria de recusa ou diminuição, em seguida ele iria entregar algo e não conseguiria e assim ficaria só e derrotado. Conseguia até mesmo saber o tempo de cada ação e reação descrita no seu vaticínio auto imposto. Via cada ato e o quanto isso o aproximava do fim. Se alegrava, porque sempre ficava feliz no fim de uma batalha, mas também ficava nervoso, diante da derrota que aconteceria.


O movimento do mais novo veio, a entrega foi quebrada. O mais novo não só quebrou como se distanciou e saiu de perto. O silêncio se fez, a cortina parecia fechar, o jogador experiente ainda tentou jogar algo, um fiapo de esperança, mas aquilo nem sequer foi visto pelo mais novo, talvez, se ele tivesse parado ele teria visto uma lágrima caída no chão, ele nunca olhou para trás e por isso nunca viu essa última troca.


By Owen

Leia Mais…